Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 7: VII Pág. 77 / 519

- Há-de ser! Essa é boa! Sabe lá a minha vida! Há-de ser! Tem graça!

- Não lhe tirarei muito tempo. Sossegue. Quero só que me passe os livros e os papéis.

- Os livros!… e papéis… Mas para quê?

- Porque de amanhã em diante tomo conta deles.

- Eu não me entendo com criancices. Na verdade o Sr. D. Luís fez-me o que eu nunca esperei dele. É bem custoso receber tal paga no fim de tantos anos de serviço! E então que patetices! Atender aos caprichos de uma criança em coisas tão sérias como estas! E sabe que mais, Sr. Jorge? Eu não tenho vagar nem paciência para me pôr agora a ensinar meninos.

Maurício ia a responder talvez com aspereza, mas Jorge atalhou-o, dizendo:

- Mas quem fala em ensinar? Quem lhe pede lição ou conselho?

- Então para que me procura amanhã?

- Para que me dê os livros e mais documentos relativos à gerência da casa, e me preste os esclarecimentos que eu lhe pedir. Não são perguntas de discípulo…

- Percebo o que quer dizer na sua: são de juiz.

- Não. Quem o supõe réu? Não, senhor. É apenas uma curta conferência, como o trocar da senha entre a guarda que se rende.

- Então o Sr. Jorge está seriamente resolvido a tomar conta disto?

- Muito seriamente.

- Sim, senhores. Há-de ser bonito! Mas isto é até um caso de consciência, e eu não sei se devo…

- Aplaque os seus escrúpulos, frei Januário. A responsabilidade de um procurador expira no dia em que a procuração lhe é retirada pelo constituinte. Até amanhã. Não se esqueça de me apresentar todos os livros da sua escrituração.

- E ele aí torna! Ora que cisma! Eu sei lá de livros e de escrituração, homem? É boa! Isto não é nenhum armazém.

- Então geria de cabeça, frei Januário? - perguntou Maurício, rindo.

- Geria como entendia.





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