O fidalgo não procurou informar-se dos meios pelos quais Jorge chegara a realizar o milagre. Cresceu a confiança no filho e de olhos fechados entregou-se a ela.
Não pararam aqui os trabalhos de Jorge. A casa, como já dissemos, lutava, havia muito tempo, com um importante litígio, que podia decidir o destino de quase metade dos bens. Esta demanda, complicada e de uma marcha morosíssima, tomara ultimamente uma feição pouco favorável aos fidalgos da Casa Mourisca.
Frei Januário já prevenira D. Luís de que a considerasse perdida.
Jorge, na revista a que procedeu nos arquivos de família, encontrou documentos a seu ver importantes e até ali não aproveitados, por incúria do padre capelão. Mostrou-os a Tomé, que, experiente nestes negócios como um verdadeiro lavrador do Minho, confirmou a valia do achado, e ambos resolveram remetê-los a um novo advogado, a quem se entregou a direcção do litígio.
Haviam pois sido bem encetados os trabalhos de Jorge. Longe ia ainda o seu pensamento da realização completa. O que havia por fazer era muito mais do que o que estava feito, mas os princípios animavam.
Por este tempo, porém, sobreveio um acontecimento que algum tanto transtornou a face destes negócios.
Recebeu-se na Herdade uma carta de Berta.
Preciso é, porém, dizermos algumas palavras a respeito de Berta, antes de a introduzirmos em cena; porque a leitora suspeita já que vai chegar afinal a heroína da história; e a ausência dela em sete capítulos inteiros talvez não tenha já sido pouco estranha.
Berta, segundo atrás fica dito, era a filha mais velha de Tomé.
Nascida na época em que o fazendeiro não era ainda o homem abastado em que depois se tornou, procuraram-lhe os pais bons padrinhos, para assegurarem o futuro da pequena.