Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 116 / 519

- Engana-se; vê? Achava-me desterrada ali até, e, desde que voltei, sinto um bem-estar que me prova que é esta a minha verdadeira pátria, que estes são os ares em que respiro à vontade.

- Esse bem-estar não tardará que se transforme em fastio.

- Não, não, não creio.

- Eu é que não creio que possa dar-se bem aqui, privada de satisfazer as aspirações naturais a um espírito como o seu.

- Mas, ó meu Deus, que qualidade de espírito me supõe então? Que aspirações são essas que diz?

- Ora para que finge ignorá-las? Acaso, diga, a satisfaria a vida da imensa maioria das três ou quatro mil pessoas deste concelho?

- E espero que há-de satisfazer-me.

- E que há-de fazer da sua imaginação? Sim, que há-de fazer disto que se sente na nossa idade, quando se não nasceu Manuel do Portelo ou Maria da Azenha?

- Perdão, será por eu ter nascido simplesmente Berta da Póvoa, que não me incomodo com isso.

- Não me entendeu, Berta. Não havia nas minhas palavras a menor baforada aristocrática; dessa ridícula mania não padeço eu, graças a Deus. Dentre os preclaros membros das casas fidalgas destes arredores, posso assegurar que apesar dos sete ou oito nomes, com que cada um se assina, nenhum experimenta isto que eu dizia. Mas, Berta…

- Olhe, Sr. Maurício. Falo-lhe com franqueza. Não me suponha o que eu não sou, ou então não diga o que não sente. Acredite; as minhas aspirações são tão leves, tão realizáveis! Satisfazem-se com estes cuidados caseiros; e fora disto, não me sinto bem. Para fazer a vontade a meu pai, segui a educação que ele desejou que seguisse; mas nunca senti prazer nisso; nunca morreram em mim as saudades do campo e dos trabalhos aldeãos…

- Acredito que hoje aprecie melhor a aldeia, porque já tem sentidos educados para a poesia que ela rescende.





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