Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 117 / 519

- A poesia! - repetiu Berta, com um forçado gesto de desdém, encolhendo os ombros.

Maurício percebeu-o.

- Ri-se? - interrogou ele.

- É que ouço falar há tanto tempo nisso, e, se quer que lhe fale a verdade, ainda não pude saber bem o que seja.

- Não sabe o que é a poesia?!

- A que se escreve nos livros sei, mas fora daí… - disse Berta, simulando um tom de completa ingenuidade.

A chegada das crianças, pedindo à irmã que as conduzisse a casa, interrompeu neste ponto o diálogo. Berta despediu-se amigavelmente de Maurício, que por muito tempo a seguiu com a vista.

- Será possível que eu me engane? - pensava ele. - Será afinal de contas uma mulher vulgar, capaz de continuar as prosaicas tradições da família? Não creio. Antes é astuciosa e dissimulada. Nesta aparente singeleza de gostos há muito espírito escondido. E, ou eu me engano muito, ou não é indiferença o que ela sente, quando me fala.

E saiu dali trabalhando nestes pensamentos.

Berta, rindo e brincando com os irmãos, pensava também:

- Parece-me que alguma coisa conseguiria. É preciso desviá-lo deste propósito; é preciso que ele se enfastie deste galanteio; que me aborreça. Hei-de fazer-me bem vulgar, bem ignorante, incapaz de sentir e de entendê-lo. Que eu não posso ficar pelo meu coração, que ainda não experimentei. Antes quero evitar o ensejo, antes quero não lutar. Chamam-me uma rapariga de juízo. Não sei, não sei se o sou, não o posso saber, nem quero. Às vezes… desconfio de mim… receio… assusto-me. Sentia-me mais animosa dantes. Parecia-me tão fácil dominar-me!… Hoje… Não quero, não quero tentar; não quero expor a tranquilidade do meu coração. Eu não me sinto senhora de mim mesma quando ele me fala. É preciso acabar com isto antes que aumente.





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