Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 120 / 519

Berta continuou falando-lhe sem constrangimento e olhando-o com a curiosidade que despertava naturalmente no seu espírito de rapariga aquele carácter sério de rapaz.

Tomé propôs a Jorge principiarem os seus trabalhos.

Berta despediu-se deles, e foi ter com a mãe.

- Então que lhe parece a minha rapariga, Sr. Jorge? - perguntou o enlevado Tomé.

Jorge articulou uma pouco inteligível frase de louvor.

- Olhe o que é a educação! - insistiu Tomé. - Quem há-de dizer que foi nascida e criada aqui, este palheiro e no tempo em que ele era ainda um pouco pior do que hoje?!

- Ah! sim... a educação... vale muito, mas é preciso que os dotes naturais a auxiliem - murmurou Jorge, como se lhe causasse repugnância o assunto da conversa.

- Sim; também me parece que se a pequena não tivesse queda... Mas o que ela sabe! o que ela leu! o que ela aprendeu! É de uma pessoa ficar a ouvi-la uma noite e um dia inteiros, sem querer saber de mais nada!

Um ligeiro sorriso, não de todo despido de ironia, encrespou os lábios a Jorge, que nada respondeu desta vez.

Tomé interpretou o silêncio do rapaz como uma manifestação dos seus desejos de entrar no exame das contas e documentos que tinham para ver aquela noite, e por isso abriu a sessão.

Antes, porém, teve de ir em procura de uns papéis necessários.

Jorge ficou só por um instante, e deu alguns passeios no quarto. Aproximando-se de uma mesa que estava próximo da janela, pegou maquinalmente na obra de costura, aí deixada por Berta, mas logo a arrojou de si com impaciência; depois abriu um livro, que, pelo aspecto elegante da encadernação, conhecia-se pertencer também à filha de Tomé.

Era um exemplar do poético idílio de Saint-Pierre, da história dos amores de Paulo e Virgínia.





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