Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 119 / 519

Era tão forte a sua turbação que lhe tremiam as pernas ao transpor a porta da sala.

Na presença de Berta, Jorge lançou para ela um olhar rápido, mas penetrante, e desviou-o logo. O espírito não serenou com o resultado desse primeiro exame.

Jorge reconheceu que o perigo, que tanto temia, era real.

Berta, prevenida como estava a respeito do génio de Jorge, tão diferente do irmão, acolheu-o com mais franqueza e menos precauções do que tivera com Maurício. Contra Jorge não precisava de acautelar o coração.

O cumprimento de Jorge foi sério e quase frio, sem um vislumbre de galanteio que se parecesse com as finezas de Maurício. Apenas disse, quase sem olhar para Berta:

- Bem-vinda, Berta; estimo vê-la restituída aos seus. Espero que ainda se lembre dum antigo conhecido.

- Não costumo esquecer-me, Sr. Jorge - respondeu Berta, sem poder deixar de examiná-lo com curiosidade.

Jorge prosseguiu no mesmo tom:

- Dizem que se aprende depressa a esquecer nas cidades. Mas quero acreditar que a sua memória desmentirá o dito. E que lhe parece agora esta terra?

E Jorge, fazendo a pergunta, quis fitar os olhos em Berta, mas desviou-os ao encontrar os dela.

- A mesma que deixei, - respondeu Berta - a aldeia guarda melhor as memórias do passado do que a cidade. Vivem-se anos longe dela, e na volta parece que as mesmas árvores e as mesmas flores, que nos despediram, nos dão as boas-vindas outra vez. Se alguma mudança há, é nas pessoas.

- Encontrou mudanças nessas?

E Jorge tentou de novo, mas sem melhor resultado, fitar os olhos em Berta.

- Nem podia deixar de ser - tornou esta - , para nós não há estações; as folhas que vão caindo, não vem a Primavera renová-las.

Jorge pôs-se a folhear, com aparente distracção, um livro que encontrou sobre a mesa; e a fronte contraiu-se-lhe levemente, como se tivesse ouvido alguma coisa que lhe desagradasse.





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