Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 10: X Pág. 124 / 519

rápida vista, insinuada por entre a porta meia aberta do gabinete castíssimo, em que dormia uma criança à meia luz da lamparina, e aquela gentil figura de mulher, colocada à entrada, com um dedo nos lábios e no rosto um ar de solicitude quase maternal, não se lhe tiraram da ideia. Era como a visão de um paraíso que sonhara.

Quando Maurício, voltando de um baile dado por um proprietário vizinho, entrou no quarto de Jorge, encontrou este, contra o seu costume, sentado próximo da janela, com a cabeça sobre o braço dobrado, que repoisava no peitoril, e tão absorto que quase não deu pela aproximação do irmão.

Maurício parou diante dele admirado, e interpelou-o:

- Que fazes aí?

Jorge sobressaltou-se, e respondeu sorrindo:

- Julgo que dormia.

- Nesse caso farei outra pergunta: que vieste para aí fazer?

- Tinha calor... cansei-me de ler... vim tomar ar. Há um instante.

- Há um instante? Não diz isso aquela luz, que parece de casa mortuária. Nada haveria mais natural do que tudo isso, se fosse com outro; porém em ti é para estranhar a menor irregularidade de hábitos.

- Também eu me estranho. É certo, porém, que esta noite não me sinto disposto para estudar.

- Pois aproveita essas felizes disposições e descansa, descansa. Que diabo! Parece-me que dás à administração de nossa casa mais importância do que ela merece. Afinal de contas sempre é tarefa que o frei Januário fez durante anos. Se soubesses como a noite está agradável! Não esteve de todo má a partida em casa dos Curujães.

- Ah! vens de lá? - inquiriu Jorge com indiferença.

- Venho, sim. Bastante gente. O Venâncio cada vez mais parvo. A Ana cantando a Norma da maneira que sabemos. A Ermelinda do Nogueiral, com a cabeça cheia de fitas, parecia um navio embandeirado; os pequenos do António Rodrigo estavam perdidos de riso.





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