Quando Maurício, voltando de um baile dado por um proprietário vizinho, entrou no quarto de Jorge, encontrou este, contra o seu costume, sentado próximo da janela, com a cabeça sobre o braço dobrado, que repoisava no peitoril, e tão absorto que quase não deu pela aproximação do irmão.
Maurício parou diante dele admirado, e interpelou-o:
- Que fazes aí?
Jorge sobressaltou-se, e respondeu sorrindo:
- Julgo que dormia.
- Nesse caso farei outra pergunta: que vieste para aí fazer?
- Tinha calor... cansei-me de ler... vim tomar ar. Há um instante.
- Há um instante? Não diz isso aquela luz, que parece de casa mortuária. Nada haveria mais natural do que tudo isso, se fosse com outro; porém em ti é para estranhar a menor irregularidade de hábitos.
- Também eu me estranho. É certo, porém, que esta noite não me sinto disposto para estudar.
- Pois aproveita essas felizes disposições e descansa, descansa. Que diabo! Parece-me que dás à administração de nossa casa mais importância do que ela merece. Afinal de contas sempre é tarefa que o frei Januário fez durante anos. Se soubesses como a noite está agradável! Não esteve de todo má a partida em casa dos Curujães.
- Ah! vens de lá? - inquiriu Jorge com indiferença.
- Venho, sim. Bastante gente. O Venâncio cada vez mais parvo. A Ana cantando a Norma da maneira que sabemos. A Ermelinda do Nogueiral, com a cabeça cheia de fitas, parecia um navio embandeirado; os pequenos do António Rodrigo estavam perdidos de riso.