Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 1: I Pág. 13 / 519

Nobre era também a carreira eclesiástica, que muitos dos seus antepassados haviam trilhado, apoiados no báculo episcopal; mas se D. Luís estava persuadido de que já não havia religião neste território de antigos crentes? e se frei Januário teimava, ensinado pelo malogro de longas pretensões às honras de umas meias vermelhas, que só se adiantava nas falanges do clero quem fosse pedreiro-livre!

Assim, pois, os jovens descendentes do velho realista passavam o tempo cavalgando e caçando nas imediações, e fruindo em santo ócio uma vida cujos espinhos todos procuravam ocultar-lhes. Caminhavam por estradas de rosas para um fundo precipício, donde lhes desviavam as vistas.

Deve, porém, dizer-se que não caminhavam ambos igualmente desprevenidos; porque de criança era diverso o carácter dos dois, e de dia para dia mais a diferença se pronunciava.

Jorge, na infância como na juventude, fora sempre grave e reflectido. Nos brinquedos tomava para si o desempenho de um papel sério. Era o pai, o mestre, o comandante, o médico, o padre, tudo aquilo que o obrigasse a um porte sisudo e a uma gravidade de homem. Adolescente, nunca as raparigas do lugar lhe ouviram uma frase atrevida; era sempre uma saudação afectuosa, casta e quase paternal a que lhes dirigia, ainda quando as encontrasse a sós nas veredas mais solitárias das devesas ou pinheirais. Elas habituaram-se àquela juvenil seriedade, saudavam-no como a velho, falavam dele com acatamento, certas de encontrarem naquele silencioso rapaz um protector na ocasião precisa, mas nunca um namorado. E contudo a figura esbelta de Jorge, varonil e inteligente expressão daquele rosto bem desenhado e um certo fulgor no olhar, que denunciava energia de carácter, obrigavam a desviar-se para o ver mais de um olhar feminino, quando ele passava com um livro debaixo do braço ou a cavalo pelos caminhos do campo.





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