Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 179 / 519

O fidalgo aproveitou de boa vontade o ensejo para cortar o diálogo, que evidentemente o incomodou.

Cedo estava a família da Casa Mourisa reunida à mesa na sala do almoço, da qual desta vez a voz alegre e a jovial presença da baronesa parecia afugentar parte das sombras que de ordinário pesavam sobre ela.

E na noite desse dia Gabriela escreveu uma longa carta a uma das amigas da capital, em que lhe narrava por miúdo os episódios da sua jornada, a sua recepção na Casa Mourisca e as impressões que recebera.

Esta carta terminava por as seguintes palavras:

«Do que te tenho dito parece-me que podes concluir que se desvaneceram aqueles projectos de sacrifício que trouxe daí e com os quais não te conformavas. O meu primo Jorge é um rapaz mais sério ainda do que eu o supunha. Não fazes ideia. Afirmo-te que é incapaz de casar por interesse, e como o espírito dele anda muito ocupado por cálculos e combinações económicas, não é também provável que se deixe tomar por amor, e portanto não casa. Assim fico dispensada de sacrificar os meus queridos hábitos de vida de Lisboa, ao que vinha deveras decidida para salvar esta família com os meus capitais, que mal sei gerir. Este rapaz, se amar, o que não é provável, há-de ser de alguma maneira extravagante, inesperada.

O outro é uma criança, que se não pode tomar a sério por marido.»

Por aqui se vê quais eram as generosas tenções de Gabriela ao chegar à Casa Mourisca, e quais as modificações que no decurso daquele dia os seus projectos haviam sofrido.

XVI

Ao outro dia pela manhã, estava Maurício aparelhando por as próprias mãos o cavalo favorito, quando Jorge foi ter com ele.

- Tencionas ir hoje ao Cruzeiro? - perguntou Jorge

- Talvez passe por lá. Porquê?

- Porque nesse caso podias poupar-me o trabalho de lhes mandar convite especial para o jantar de amanhã.





Os capítulos deste livro