Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 180 / 519

- O jantar de amanhã?

- Sim; o pai insiste em celebrar com um jantar a chegada de Gabriela, e bem vês que não é possível deixar de convidar os do Cruzeiro, ainda que, por minha vontade, os deixaria quietos no seu antro.

- Eu os convidarei. Desses me incumbo. E a outra parentela?

- Mandar-se-ão cartas.

- Um jantar na Casa Mourisca! Ó sombra dos nossos antepassados, folgai!

- Estremecei, diz antes, que mais razão têm para isso.

- Estes velhacos não deitaram ontem de comer a este pobre animal - observou Maurício, afagando o cavalo.

- Seria uma prova de afeição que lhe daríamos se lhe proporcionássemos ocasião para mudar de dono - murmurou Jorge sorrindo.

Pouco depois, Maurício montava e partia a trote para o Cruzeiro.

A casa do Cruzeiro, solar dos asselvajados primos de Maurício, ficava no extremo da povoação, exibindo nos campos que a cercavam uma agricultura preguiçosa e mesquinha, e dominando um vasto trato de mal cuidadas bouças, onde os senhores da propriedade perseguiam implacáveis as lebres e perdizes que ali se acoutavam.

Causava lástima o estado de decadência a que a má administração e a vida dissipada dos senhores do Cruzeiro tinham levado aquela casa, de cuja passada grandeza já nem se descobriam vestígios.

Na actualidade não era mais do que um velho casarão enegrecido, mal vedado aos ventos e às chuvas, onde cada dia realizava um novo estrago, que nunca mais era reparado. Por fora e por dentro a mesma absoluta carência de confortos; porque não sentia a necessidade deles a robusta organização de qualquer dos proprietários, afeitos à vida dos montes, às longas caçadas e às lutas com os rigores do tempo. O solo árido, os celeiros vazios, a abegoaria deteriorada, os currais desertos, a cultura perdida.





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