Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 305 / 519

A sua generosidade e os seus sacrifícios não podem ir tão longe: graças a eles, já a usura me deixa respirar mais livremente, e já a equidade substituiu o dolo de muitos dos contratos de nossa casa. Mais tarde a escala do empréstimo tem de subir forçosamente para realizar em grande os aperfeiçoamentos agrícolas que em pequeno vou ensaiando. O capital particular não me bastará para esse intento. Lembrei-me da nova companhia de Crédito Predial, que se instalou agora no país. Preciso pois informar-me dos negócios atinentes a estas operações e da regularidade de alguns títulos que possuímos. Pode auxiliar-me no que lhe peço?

- Amanhã partiremos, se quiser.

- Pois seja amanhã. E não acha que encaminho melhor a sua vingança por este lado, Tomé?

- Acho que quem tem o juízo do Sr. Jorge pode muito bem passar sem o auxílio de pessoa alguma. Mas enfim cá estou às ordens.

Passado meia hora, entrou Tomé em casa e participou à mulher que ia no dia seguinte ao Porto, na companhia de Jorge, e que talvez aí se demorassem alguns dias.

Luísa ficou compreendendo que os projectos de restauração da Casa Mourisca haviam sido pelo menos adiados, e com isto cresceu nela a admiração pelo carácter de Jorge.

Maria Luísa tinha durante aquela manhã recebido impressões que não se atrevia a revelar totalmente ao marido, mas que a não deixavam estar sossegada enquanto não transpirassem em vagas insinuações.

Estavam à janela os dois esposos, conversando placidamente de Jorge e de D. Luís, e da próxima jornada à cidade, quando Luísa, depois de uma pausa na conversa disse ex abrupto para o marido:

- Ó Tomé, e que dirias tu se um dia a tua filha morasse naquela casa?

E, ao dizer isto, designava com a cabeça a Casa Mourisca.

Tomé olhou para a mulher, como se aquelas palavras lhe fizessem duvidar da firmeza do juízo dela.





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