Bem vê, se descobriu em mim culpas, para remir as quais me marcou esta penitência, bem vê com que resignação eu a aceito e a cumpro. Valha-me pelo menos este pouco mérito para obter da sua parte uma declaração franca, já que não pode valer-me... a sua amizade. Fale, Sr. Jorge, diga-me por que me quer mal, o que fiz eu, que más qualidades descobriu em mim para me tratar como trata? Fale.
E a comoção cortava-lhe em meio as palavras ao dizer isto.
Jorge não estava menos comovido.
Berta deixara-se cair soluçando em uma cadeira, e escondia o rosto entre as mãos. Jorge, cujo semblante já não conservava vestígios da sua fria e habitual reserva, veio sentar-se junto dela, tomou-lhe afectuosamente as mãos e, dirigindo-se-lhe com brandura, disse-lhe:
- Vou satisfazê-la, Berta; vou ser sincero e leal consigo, já que assim o quer. Escute-me, e saberá a causa oculta de todo o meu estranho procedimento. Olhe bem para mim, Berta, para ler no meu semblante a sinceridade da minha confissão.
Berta ergueu para ele os olhos húmidos de pranto.
Jorge prosseguiu, apertando-lhe com mais fervor as mãos, que conservava nas suas:
- A causa íntima, a causa oculta das minhas acções para consigo, Berta, essa causa misteriosa, que eu procurava esconder da vista de todos e sufocar no meu coração... quer sabê-la, Berta? Essa causa é o muito amor que lhe tenho.
Berta estremeceu e, retirando as mãos das de Jorge, levou-as ao rosto, como para reprimir um grito.
Jorge prosseguiu:
- Agora há-de escutar-me, Berta. Os corações reservados, como o meu, quando chegam a soltar a primeira confidência precisam de se revelar inteiros; escute-me. Amo-a; amava-a antes mesmo de a ver depois do seu regresso à aldeia. Insinuou-se-me na alma este amor; no meio das minhas preocupações e dos meus cuidados, sem eu bem saber como ouvia falar de si a seu pai, lia as suas cartas, pensava em si e.