Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 27: XXVII Pág. 385 / 519

.. e amei-a. Foi o meu primeiro amor. Nunca tinha sentido outro, nunca sentira até a necessidade de amar. Nenhuma mulher me havia escutado uma só palavra de galanteio. Persuadira-me eu próprio de que o meu coração era superior à violência dos afectos, a que os outros cediam. Quando, pelo que senti, me vi forçado a abandonar esta crença, quando comecei a duvidar da minha imunidade, assustei-me e irritei-me contra mim mesmo por me achar fraco. Quis lutar e vencer essa paixão que, a despeito da minha vontade, sentia ocupar cada vez mais espaço no meu coração. Aí, Berta, começou para mim uma luta extenuadora; quanto mais resistia, tanto mais me sentia subjugado. Revoltei-me contra a fatalidade deste afecto, revoltei-me contra si, Berta, a quem desejava querer mal por o muito que a amava já. Daí a rudeza das minhas palavras, a quase hostilidade do meu proceder para consigo. Para apagar o prestígio que o seu nome, que a sua imagem tinham adquirido no meu coração, supunha-lhe defeitos imaginários, inventava-lhe vícios de educação, procurava assim alienar de si os meus afectos, antes que chegasse o temido momento de vê-la; em vão, cada vez a amava mais, e no dia em que finalmente a tornei a ver conheci que era irremediável aquela fatalidade; amava-a muito, e tanto que até ciúmes sentia já.

Berta, a estas palavras, levantou os olhos para ele.

Jorge prosseguiu, respondendo àquele gesto:

- Ciúmes, sim Berta; ciúmes que me ralavam, ciúmes que me enchiam de remorsos, e que envenenavam quase o afecto que me ligava a meu irmão. Porque era dele que os sentia. Veja que má loucura a minha! É a Maurício que Berta ama, pensava eu, seduzem-na as qualidades brilhantes de meu irmão, e contudo ele não a ama como eu. Então indignava-me contra si, Berta, contra mim próprio, porque a amava tanto.





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