Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 30: XXX Pág. 419 / 519

- Não me entendeu, Berta. Creia que eu sei ter na devida conta a lealdade com que me está falando, e que mais do que nunca sinto por si a maior consideração e estima. Se a escolhesse para esposa, juro-lhe que, apesar da sua confissão - não digo bem - por causa até da sua confissão, teria em si tanta confiança, Berta, como em mim mesmo. O que me faz pensar é outra coisa. Se esse homem existe, porque é que a menina perdeu já as esperanças e quer assim tornar impossível o que ainda o não é?

- É impossível, é, Clemente.

- Ora é! Quem sabe? Eu não queria ser um dia o obstáculo da sua felicidade. Nem de tal me quero lembrar.

- Clemente, suponha que em vez da confissão que lhe fiz, eu lhe tinha dito apenas: sonhei um dia com um noivo, que não se parecia consigo, Clemente. E tão louca sou, que me ficou ainda daquele sonho uma vaga saudade no coração. Por isso não mo ocupa inteiro o afecto que tenho para lhe consagrar. É assim que posso oferecer-lho. E agora resolva como se assim lhe tivesse falado. Bem vê que nunca se arriscará a ser estorvo a uma felicidade... que se sonhou.

- Mas valha-me Deus, Berta, os sonhos que nunca saem certos são os que se sonham a dormir... e até esses vezes...

- Há os que se sonham em vigília menos realizáveis ainda.

- Mas em todo o caso... Não me leva a mal se eu pedir tempo para reflectir?

- Decerto que não. Para isso mesmo foi que lhe falei assim.

- É um anjo, Berta, e creia que, se tenho dúvidas, é porque não queria ser nunca estorvo à sua felicidade. A tempo lhe darei a resposta.

E Clemente saiu dali pensativo e indeciso sobre a resolução que deveria adoptar.

Pensava o pobre rapaz:

Afinal de contas ela gosta do outro. É o que isto tudo quer dizer. Então que faço eu em meter-me de permeio nesses amores? Mas.





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