- Não disse, não senhora, não lhe disse isso logo.
- Não? Pois isso é que eu não esperava de ti.
- Pedi-lhe tempo para pensar. Eu o que queria era saber quem era o tal, para ver se de facto o casamento seria impossível, porque, se visse que o era, casava eu, isso casava. O que não queria era vir a ser tropeço algum dia.
- E daí?
- E daí tanto pensei, tanto parafusei, que esta noite dei com a história.
- Então? Algum janotinha da cidade?
- Sabe o que lhe digo, minha mãe, é que o caso é bastante sério; e agora o que me dá cuidado não é o meu casamento, que esse já eu sei que se não faz; o que me dá cuidado são eles.
- Eles quem?
- A Berta e o rapaz de quem ela gosta e que é... Sabe quem? O filho mais velho do fidalgo, Jorge.
A Ana do Vedor empurrou o ombro do filho e fez um gesto que, combinado àquele movimento exprimia a mais radicada dúvida.
- Vai-te daí! Olha agora o disparate! Ora, ora...
- Creia que é verdade.
- Pois a tola da rapariga.... meter-se-lhe-ia em cabeça?...
- Não se lhe meteu em cabeça coisa nenhuma. Gosta dele, mas sem esperança, e tanto que não hesita em casar com outro. Mas o pior é que Jorge ainda gosta dela talvez. E Deus queira que isso não venha a dar cabo dele.
- O quê? a dar cabo dele?
- Pois se vossemecê o visse! É olhar-lhe para a cara e diz-se logo: este rapaz tem coisa que o rói lá por dentro. Eu não suspeitava o que fosse, mas agora que pensei...
- Mas como é que tu vieste a saber isso?
Clemente contou à mãe as entrevistas que tivera com Jorge, e a maneira estranha por que ele o recebera, a irritação com que o ouvira falar em Berta, a singularidade das reflexões que lhe fez e dos conselhos que lhe deu, e a Ana do Vedor acabou por convencer-se de que o filho acertara.