Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 32: XXXII Pág. 445 / 519

..

- Perdão, ouça-me vosssemecê primeiro. Berta não sente inclinação por mim, porque a sentia já por outro. Está satisfeita?

- Olha a pateta da rapariga! Então já a sonsinha... tinha também o seu namorado! Que mundo este!

- Ó minha mãe, então se ela se agradasse de mim não era pateta, e lá porque se inclina para outro, já vossemecê faz um espanto desses! Que sou eu mais do que eles?

- Não é isso - disse a mãe, um pouco embaraçada com o argumento -, eu o que queria dizer era... enfim... se fosse um rapaz capaz... mas qual... algum menino-bonito, algum peralvilhito de Lisboa. Então disse-te assim mesmo na cara que não gostava de ti. E tu...

- Berta disse-me que tinha tido uma paixão, mas que fazia por vencê-la, porque não podia casar com o homem de quem gostava; e que se eu, sabendo isso, ainda a quisesse para mulher, ela não duvidava em dizer que sim, e jurava que me seria fiel companheira na vida.

- Muito obrigada aos seus favores, mas não são cá precisos. Olha agora! Nem que tu morresses sem os seus bonitos olhos. Se deu o coração a outro, que lhe preste, e que passe por lá muito bem sem ele. Olha agora! Como quem diz: enfim eu não gosto de ti, mas vejo-te tão embeiçado, que me metes pena. Graças a Deus, não faltam por aí mulheres com quem cases, e, se faltassem, também vivias bem sem elas, que, Deus louvado, não te falta que comer, que é o essencial. Olha agora! Não que eu nunca vi umas delambidas como agora há! Aquele Tomé é quem tem culpa.

- Ó minha mãe, já estou arrependido de lhe ter falado nisto. Olhem o escarcéu que aí está levantando!

- Ó filho, isto é um modo de falar. A gente faz cá os seus votos de razão. Mas vamos ao caso. Tu disseste-lhe logo que passavas regaladamente sem os seus obséquios? está entendido.





Os capítulos deste livro