Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 488 / 519

- E querem ver que o tio Luís também soube? É impossível que tudo isto não lhe tenha feito muito mal! Eu nunca vi! Esta gente toda entregue a si parece que porfia em complicar a situação. Maurício, vamos ver teu pai. Deus queira que ainda seja possível remediar o mal feito. Vens, Jorge?

Passados momentos entravam todos três no quarto de D. Luís, onde penetrava apenas a discreta claridade coada pelas cortinas corridas e pelas janelas meio abertas.

Frei Januário, que dormitava ao lado do leito, com o lenço vermelho em uma mão e o breviário na outra, ergueu-se ao ver a baronesa e, depois de cumprimentá-la, dispunha-se a avisar o fidalgo.

Gabriela susteve-o e, avizinhando-se do leito, correu ela própria os panos do cortinado e contemplou o rosto do ancião, que dormia profundamente.

Maurício e Jorge acercaram-se também.

A nobre fisionomia de D. Luís, abatida pelo sofrimento físico e moral, e sobre a qual o sono parecia derramar uma serenidade, como de resignação, impressionou-os a todos.

A baronesa ajoelhou ao lado do velho, e pegando-lhe na mão beijou-a com afecto e respeito.

Maurício ajoelhou também ao lado de sua esposa.

D. Luís acordou um tanto sobressaltado. Deu primeiro com a vista em Jorge e depois, desviando-a, reconheceu a sobrinha e o filho mais novo, e raiou-lhe no semblante, ao vê-los, um clarão de alegria.

- Ó meus filhos! - exclamou ele, solevantando-se no leito e apoiando-se no braço trémulo.

Depois, passando a mão por sobre a cabeça dos noivos, acrescentou:

- Deus vos abençoe, como eu vos abençoo.

E deixou-se cair extenuado sobre o travesseiro.

Gabriela levantou-se para ampará-lo.

- Ai, Gabriela - disse ele, suspirando -, finalmente parece que chegou a hora da liberdade.

- Diga que chegou a hora da ressurreição.





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