D. Luís voltou os olhos para o filho mais novo.
- Maurício - disse com a voz cansada e interrompida -, és ainda muito rapaz e vais viver em um mundo perigoso; não desprezes a conselheira que Deus colocou a teu lado.
- Como hei-de desprezá-la, se a adoro? - disse Maurício com o galanteio de um noivo ainda namorado.
A baronesa correspondeu-lhe com um sorriso, e observou:
- Nem receio o desprezo, nem creio na adoração. Deixemos as coisas nos termos ajustados. Estimemo-nos e seremos felizes.
- Nem todos podem ter a frieza do teu ânimo, filha - disse Maurício a meia voz.
- Não é tempo agora de discutirmos isso. Sabes? O pai não pode por enquanto ouvir longas conversas. Acordou há pouco e precisa de poupar a atenção. Se tu fosses com Jorge dar ordem a essas coisas que os criados trouxeram... Eu ficaria no entretanto aqui.
Jorge e Maurício perceberam que a baronesa tinha desejos de que a deixassem só com D. Luís, e saíram por isso da sala.
Frei Januário, meio adormecido, não deu pela saída dos rapazes e permaneceu entre o leito e a parede, encoberto pelo cortinado e despercebido de Gabriela.
Esta sentou-se à cabeceira do leito e com feminil carinho começou a ajeitar a travesseira do doente e a desviar-lhe da fronte as cãs desordenadas.
- Eu não esperava vir encontrá-lo sem enfermeira - dizia Gabriela o mais naturalmente possível.
D. Luís suspirou.
Ela insistiu.
- É uma coisa tão necessária! Porque há certo cuidado que só uma mulher pode ter. É a nossa especialidade.
D. Luís abanou a cabeça.
- Tem razão, Gabriela. É uma desconsoladora solidão a de um doente sem esses cuidados de que fala.