Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 36: XXXVI Pág. 489 / 519

Verá como de hoje em diante tudo vai ser ventura nesta casa. Há-de trazer-lha Jorge e Maurício e eu, até eu e... e mais alguém. Quem sabe?

D. Luís voltou os olhos para o filho mais novo.

- Maurício - disse com a voz cansada e interrompida -, és ainda muito rapaz e vais viver em um mundo perigoso; não desprezes a conselheira que Deus colocou a teu lado.

- Como hei-de desprezá-la, se a adoro? - disse Maurício com o galanteio de um noivo ainda namorado.

A baronesa correspondeu-lhe com um sorriso, e observou:

- Nem receio o desprezo, nem creio na adoração. Deixemos as coisas nos termos ajustados. Estimemo-nos e seremos felizes.

- Nem todos podem ter a frieza do teu ânimo, filha - disse Maurício a meia voz.

- Não é tempo agora de discutirmos isso. Sabes? O pai não pode por enquanto ouvir longas conversas. Acordou há pouco e precisa de poupar a atenção. Se tu fosses com Jorge dar ordem a essas coisas que os criados trouxeram... Eu ficaria no entretanto aqui.

Jorge e Maurício perceberam que a baronesa tinha desejos de que a deixassem só com D. Luís, e saíram por isso da sala.

Frei Januário, meio adormecido, não deu pela saída dos rapazes e permaneceu entre o leito e a parede, encoberto pelo cortinado e despercebido de Gabriela.

Esta sentou-se à cabeceira do leito e com feminil carinho começou a ajeitar a travesseira do doente e a desviar-lhe da fronte as cãs desordenadas.

- Eu não esperava vir encontrá-lo sem enfermeira - dizia Gabriela o mais naturalmente possível.

D. Luís suspirou.

Ela insistiu.

- É uma coisa tão necessária! Porque há certo cuidado que só uma mulher pode ter. É a nossa especialidade.

D. Luís abanou a cabeça.

- Tem razão, Gabriela. É uma desconsoladora solidão a de um doente sem esses cuidados de que fala.





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