Ilíada - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 91 / 178

— Estou certo, amigo, de que foi um dos deuses olímpicos que esteve agora connosco, disfarçado sob o aspecto de Calcas. Os deuses são fáceis de reconhecer. Até a maneira de andar era diferente. Sinto-me ansioso por combater e os meus pés parecem querer andar sozinhos.

Ájax, filho de Télamon, respondeu:

— O mesmo acontece comigo. As minhas mãos querem agarrar a lança e sinto, em cada pé, como que um par de asas invisíveis. Estou disposto a enfrentar, sozinho, Heitor e a lutar até o vencer.

Enquanto os dois Ájax assim falavam, Neptuno ia juntando os desanimados helenos e reacendia-lhes o animo. Ao ver que os troianos tinham saltado a muralha, o medo e a fadiga apoderaram-se dos gregos e, com lágrimas nos olhos, diziam uns aos outros que estavam perdidos. Agora, porém, estimulados pelo deus do mar, iam reorganizando as fileiras para um contra-ataque, ao mesmo tempo que lhe ouviam as exortações:

— Que vergonha, ó gregos! Porquê esse desanimo? Garanto-vos que, se combaterdes com valor, conseguiremos afastar os troianos para longe dos navios. Mas, se vos entregardes e fugirdes, então não haverá remédio. Nunca pensei que os meus olhos haviam de ver tal desgraça: os meus filhos queridos a fugirem acobardados ante o perigo. Onde anda o vosso rei? Embora ele tenha feito mal em ultrajar o valente Aquiles, não é motivo para desistir da luta. Vamos, coragem! O bravo Heitor está a aproximar-se dos vossos navios e vai incendiá-los!

Palavras que bastaram para reacender o animo dos chefes. De imediato e de todos os lados afluíram os guerreiros, concentrando-se em torno dos dois Ájax. Fizeram unir os escudos e brandiram as lanças, animados por um só desejo: defender-se a todo custo.





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