Berta corou intensamente perante a grosseira sem-cerimónia do padre e dirigiu a Maurício um olhar em que se fazia uma interrogação e se formulava uma censura.
Maurício respondeu a este olhar, dizendo em tom de irritado:
- Desculpe, minha senhora, as maneiras pouco delicadas de meu primo. É um javali silvestre que não sabe amaciar as sedas.
O mano bacharel soltou uma gargalhada, quase tão grosseira como a apresentação do padre, e apimentou-a com a expressão de igual delicadeza:
- Ora toma! Apara lá esse peão à unha! ah! ah! ah!
O padre olhou espinhado para Maurício e radarguiu:
- Ora não querem ver este senhor de salão, que se ofende com as minhas sem-cerimónias? Javali! Tem graça! Quem o ouvir há-de supô-lo um cãozinho de regaço. Meu lindo priminho, esta menina não é nenhuma tola e sabe o que é o mundo; e escusas, para lhe agradar, de te apresentares como um galã choramingas. Ora é boa!
- Adeus, adeus, padre Lourenço, isso previa eu!
- Previas o quê? Então eu ofendi alguém?
- De ofender a ser menos delicado vai alguma distância, mas...
- Dizes tu que o que não sou é impostor e hipócrita, apesar de me terem feito padre. Eu disse o que era verdade. Nós, se estamos aqui, é por tua causa. Não é assim, Chico?
O mano Chico afirmou.
Berta assistia a toda esta cena com visível desgosto, mas sem interrompê-la com uma palavra.
- Berta, afirmo-lhe... - ia a dizer Maurício para justificar-se da tácita arguição que lia no olhar dela.
- Com licença, - cortou-lhe o padre a palavra - se sou grosseiro e javali, hei-de sê-lo até ao fim. A coisa passou-se desta maneira. O Chico que o diga. Aqui o primo Maurício parece que está perdido por a menina, e por tal modo nos falou de si, tanto nos matou o bicho-do-ouvido para que lhe passássemos por a porta, que nós viemos.