Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 13: XIII Pág. 149 / 519

E aqui estamos.

Berta corou intensamente perante a grosseira sem-cerimónia do padre e dirigiu a Maurício um olhar em que se fazia uma interrogação e se formulava uma censura.

Maurício respondeu a este olhar, dizendo em tom de irritado:

- Desculpe, minha senhora, as maneiras pouco delicadas de meu primo. É um javali silvestre que não sabe amaciar as sedas.

O mano bacharel soltou uma gargalhada, quase tão grosseira como a apresentação do padre, e apimentou-a com a expressão de igual delicadeza:

- Ora toma! Apara lá esse peão à unha! ah! ah! ah!

O padre olhou espinhado para Maurício e radarguiu:

- Ora não querem ver este senhor de salão, que se ofende com as minhas sem-cerimónias? Javali! Tem graça! Quem o ouvir há-de supô-lo um cãozinho de regaço. Meu lindo priminho, esta menina não é nenhuma tola e sabe o que é o mundo; e escusas, para lhe agradar, de te apresentares como um galã choramingas. Ora é boa!

- Adeus, adeus, padre Lourenço, isso previa eu!

- Previas o quê? Então eu ofendi alguém?

- De ofender a ser menos delicado vai alguma distância, mas...

- Dizes tu que o que não sou é impostor e hipócrita, apesar de me terem feito padre. Eu disse o que era verdade. Nós, se estamos aqui, é por tua causa. Não é assim, Chico?

O mano Chico afirmou.

Berta assistia a toda esta cena com visível desgosto, mas sem interrompê-la com uma palavra.

- Berta, afirmo-lhe... - ia a dizer Maurício para justificar-se da tácita arguição que lia no olhar dela.

- Com licença, - cortou-lhe o padre a palavra - se sou grosseiro e javali, hei-de sê-lo até ao fim. A coisa passou-se desta maneira. O Chico que o diga. Aqui o primo Maurício parece que está perdido por a menina, e por tal modo nos falou de si, tanto nos matou o bicho-do-ouvido para que lhe passássemos por a porta, que nós viemos.





Os capítulos deste livro