- É pouco lisonjeira para a nobreza, mas muito lisonjeira para mim a sua opinião.
- Digo-te com franqueza e já agora deixa-me aproveitar este tempo, em que estamos sós, para falar nisto e assentar as bases do meu proceder. Vamos direitos à questão. As finanças não correm bem cá por casa, ao que entendi.
- Correm muito mal.
- Não admira; é doença da época. E tu tomas a peito endireitá-las?
- Tento-o.
- E consegue-lo. Consegues, porque o teu génio é o de uns certos homens que eu tenho conhecido, que conseguem tudo quanto querem, só a querer e sem fazer barulho. Ai, Jorge, lá por Lisboa ouço dizer que há tanta falta de financeiros que estou tentada a exportar-te. E Maurício?
- Maurício...
- Percebo; é mais difícil de acomodar esse. Era fácil, se não fossem as pieguices de teu pai, que há-de morrer assim. Diz-me uma coisa, ó Jorge, tu és absolutista também?
- Eu quase não tenho ideias fixas em política.
- Bom, bom, já entendo. Não queres declarar-te por contemplação para com as tradições de família. Estás como eu; eu sou, sem dúvida alguma, liberal; porque enfim deves concordar que para se ficar toda a vida a ser absolutista é preciso viver, assim como teu pai, em uma aldeia como esta e com um padre procurador a dizer-nos há vinte anos a mesma coisa; porém, como meu pai foi militar no exército realista, não tenho remédio senão obrigar a guardar certas conveniências ao meu liberalismo. Ora tu estás no mesmo caso.
- Talvez.