Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 15: XV Pág. 188 / 519

Mas, de justiça é que se diga, o amor, a paixão, a inclinação, o capricho ou como mais rigoroso nome tenha, o sentimento de Maurício para Berta atingira a máxima intensidade a que podiam subir os afectos daquele carácter volúvel. Senão amava ainda deveras, é certo também que nunca amara melhor. Berta, demais, possuía sobre as outras mulheres que nas épocas sucessivas haviam reinado na imaginação deste rapaz o prestígio das recordações de infância, a distinção de trato adquirida na educação da cidade, e até a desafectada reserva com que lhe tinha acolhido o galanteio.

As reflexões de Jorge contra aqueles amores, a perspectiva das repugnâncias de família, dos obstáculos a vencer, dos preconceitos e paixões com que lutar, longe de extinguirem a chama em que ele procurava abrasar-se, antes mais a activavam.

A ideia de um amor entre dois corações jovens, amor constante em despeito do antagonismo, das animadversões e dos ódios das famílias; esse eterno e poético tema de tantas obras de arte era simpático à fantasia de Maurício, que, seduzido por ela, chegou a convencer-se de que estava destinado a ser mais um exemplo do caso; estímulo suficiente para o apaixonar.

Jorge estranhou-lhe o ar pensativo, mas não o interrogou.

A baronesa, usando dos privilégios de mulher nova e elegante, costumada a não refrear a sua curiosidade feminina, interpelou-o directamente:

- Não voltaste muito amável do teu passeio matinal, Maurício. Que foi isso?

- Perdoe-me, prima. Isto é uma das muitas mudanças de colorido que, sem que se saiba por quê, se opera no humor de uma pessoa.

- Hum! Não andará aí influência do coração?

Maurício soltou um meio riso de descrente, respondendo:

- O coração! O meu coração é modesto. Não aspira a dominar.





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