Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 18: XVIII Pág. 239 / 519

Nós já lá vamos ter.

- Então V. Ex.ª quer ir a pé até à baixa do Paul?! - perguntou o padre assustado.

- Vou.

- Mas... é um estirão e...

- Então que fazes? Parte - disse D. Luís com impaciência para o criado, e este obedeceu-lhe prontamente.

O padre ficou a resmonear:

- Eu cada vez ando mais às aranhas com a gente desta casa. Sempre tenho visto e ouvido coisas há tempos a esta parte! Olhem que preparos estes! Havemos de cear a boas horas, não tem dúvida nenhuma!

- Agora feche a porta, frei Januário - ordenou D. Luís.

O padre tomou com ambas as mãos a enorme chave do portão, e fê-la girar na fechadura.

Este movimento produziu um som agudo, semelhante ao gemido de uma ave, o qual ressoou tristemente pelo interior daquela casa deserta.

O padre tirou a chave, que juntou ao molho que trazia, deu um encontrão à porta, para verificar se ela estaria bem fechada, e depois olhou para D. Luís.

- Vamos - disse este.

O padre ia pôr-se a caminho, mas parou, vendo o fidalgo seguir a direcção oposta à da Quinta dos Bacelos.

- V. Ex.ª por onde vai?

- Por aqui - respondeu secamente o fidalgo, continuando a andar.

- Mas... V. Ex.ª está enganado. Esse não é o caminho.

- Bem sei.

O padre seguiu, murmurando contra as venetas do fidalgo:

- Esta cabeça já não regula direita. Onde diabo quer ir este homem?

O caminho que D. Luís continuava a seguir era tão divergente do que o padre esperava, que outra vez o interpelou:

- Mas V. Ex.ª onde quer ir?

- A casa do Tomé da Póvoa - respondeu D. Luís, e acrescentou:

- E advirto-lhe, frei Januário, que não me sinto com disposição para conversar.

O padre sabia que sempre que D. Luís fazia certas observações, em certo tom e com certa inflexão de voz, era inútil e imprudente contrariá-lo.





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