Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 300 / 519

Chegados que foram à quinta, fixou-se na primeira avenida à entrada, e aí principiou a azáfama, arrancando as ervas inúteis, decepando ramos mortos, varrendo as folhas caídas, amparando os arbustos derrubados sobre o caminho, desassombrando as plantas afrontadas e à míngua de sol, enxugando e nivelando os passeios alagados, e desobstruindo os encanamentos de rega. A rua ficou que era um primor.

No momento em que Jorge o avistou, limpavam os criados o limo depositado em um tanque, enquanto Tomé, suando, tentava erguer sobre o pedestal a estátua de pedra de não sei que divindade pagã, que havia muitos anos repoisava em leito de malvas e ortigas, coberta de líquenes esverdeados.

- É dia de festa por cá, à balbúrdia que estou vendo! - disse Jorge, adiantando-se enfim, e aparecendo aos olhos do fazendeiro, que se voltou precipitado ao ouvir-lhe a voz. - Quem visse dizia que passa por aqui procissão em que nós somos mordomos.

Tomé, readquirindo a sua presença de espírito, respondeu:

- Procissão não digo, mas festa em que eu sou mordomo há-de haver aqui, se Deus me der saúde.

- Bem, visto que o Tomé é o juiz da festa, pode dispor do seu tempo sem pedir licença a ninguém. Por isso há-de conceder-me um momento de conversa.

- Não, não Sr. Jorge, tenha paciência; mas eu tenho grande empenho em dar andamento a isto.

- E eu absoluta necessidade de falar-lhe.

- Ora valha-me Deus! E eu então que estou quase a adivinhar o que me vai dizer!

- Talvez que não.

- O que lhe afirmo é que se me quer tirar da cabeça isto que se me meteu cá dentro, é tempo perdido.

- Não faça conjecturas antecipadas, Tomé. Sente-se primeiro.

- Pois vá lá. Vocês sigam por aí adiante - disse o lavrador, voltando-se para os criados - e além naquela nora.





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