Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 21: XXI Pág. 301 / 519

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- Pode mandá-los embora, Tomé - atalhou Jorge.

- Embora? Adeus! É o que eu digo! Olhe que se é com o fim de me dissuadir que...

- Mande-os embora, que está a cair meio-dia e pouco serviço podem fazer até lá. De tarde ou amanhã continuarão, se o Tomé achar conveniente.

- Não, não hei-de achar! Enfim vão lá à sua vida, mas em sendo duas horas...

- Ora adeus; deixe as ordens para lhas dar em casa, que tem tempo - atalhou pela segunda vez Jorge.

- Pois tenho, tenho, mas enfim... Ide lá com Deus.

E, ficando só com o jovem fidalgo, Tomé da Póvoa cruzou os braços e interrogou em tom de amigável enfado:

- Aqui me tem. Então o que é que me quer?

Jorge enfiou o braço no dele e, encaminhando-o para o tanque de pedra, limpo e esfregado de pouco pelos criados da Herdade, disse-lhe:

- Vamos sentar-nos ali, que o que eu tenho a dizer-lhe é sério e precisa de ser tratado com sossego e descanso.

E, sentando-se ambos na borda do tanque, voltados na direcção da Casa Mourisca, cuja fachada se descobria por entre uma das árvores, Jorge prosseguiu:

- Agora que estamos sós, Tomé, vai dizer-me o que significa toda esta brincadeira.

À palavra «brincadeira», o fazendeiro deu um salto.

- Eu não o disse! Ele aí vem com as suas reflexões! Por essa esperava eu. Mas não tem dúvida, eu estou pronto para explicar-lhe a brincadeira. Se o Sr. Jorge visse, como eu vi, olharem as minhas acções como insultos, não serviços, que bem sei que não os fiz, mas pelo menos bons desejos, como são os que tenho de lhe ser útil e aos seus, também não havia de sofrer com tanta paciência a injustiça, que não procurasse tirar desforra.

E Tomé, levantando-se, pôs-se a passear agitado.

- Mas venha cá, Tomé, quem lhe diz que não tem razão em se ofender e até em se vingar nobremente, como empreendeu fazê-lo?

- Sim, mas então não chame brincadeira ao que faço - tornou o fazendeiro, amuado.





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