Berta corou e não foi superior a certa confusão, que se esforçou por vencer, dizendo:
- Ainda que não haja, não é isso motivo para o abrir ao primeiro que apareça. Com toda a sinceridade da minha alma lhe falo, Sr. Maurício. Creia que para todas as pessoas que têm o nome de sua família há no meu coração muito respeito, muita estima e muita gratidão. De todos estes sentimentos se pode dar razão. Mas o amor não é assim. Ninguém sabe porque ama ou porque não pode amar. Julgo eu. É uma coisa que se sente, mas que não se explica. Pois não concorda? E agora peço-lhe que me não acompanhe mais longe. Repare que a tempestade está para breve. Espero, Sr. Maurício, que será sempre nosso amigo.
E dizendo isto, estendia-lhe a mão, que Maurício apertou silenciosamente.
E separaram-se, seguindo direcções opostas.
Maurício murmurava:
- E contudo creio que me amas. Não é essa frieza que me há-de iludir.
- Daqui não vem perigo para o meu coração. Acabei de convencer-me agora. Basta ver a tranquilidade que sinto. Assim pudesse dizer o mesmo do outro.
Mas a Casa Mourisca continuava a atraí-la. De noite, à claridade vaga do luar, às tardes, quando os últimos e desmaiados raios do sol lhe tremiam na fachada enegrecida, de madrugada, no meio das nebrinas do rio, que fantasticamente o envolviam, a todo o momento enfim, as encantadas memórias da infância de Berta adejavam sobre o deserto solar, e as saudades, evocadas por ela, como se lhe levantavam do coração a encontrá-las.
Às mesmas horas da tarde, repetiu Berta, no dia seguinte ao do seu encontro com Maurício, a tentativa para visitar o solitário palácio. Desta vez passou além da ponte, subiu a ladeira da colina oposta, e chegou a tocar com a mão na porta da quinta.