Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 338 / 519

- Estou quase a persuadir-me disso.

- De quê?

- De que me impele uma força irresistível por um caminho, no fim do qual a minha queda é inevitável.

- É um pressentimento trágico.

- É uma opinião ditada pela experiência.

- Experiência! Essa palavra na tua boca, Maurício! O eterno mote dos velhos, glosado por um rapaz de dezoito anos, e estouvado como todos sabemos!...

- E por que não há-de ser esse mesmo estouvamento o que me perde? Os estouvados são os homens que não têm na razão força bastante para conterem os impulsos das paixões, e que por isso obedecem a estas, sem que os façam parar os preconceitos do mundo e os conselhos dos juízos frios.

- Se me faz favor, esses são os apaixonados. Os estouvados não chegam nunca a ir muito longe sob o impulso de uma paixão, porque mudam de soberana a cada momento, donde resulta um mover indeciso, um flutuar sem rumo, um jogar entre ventos encontrados, que não lhes permite vencer longo caminho.

- Nesse caso rejeito o epíteto de estouvado.

- Achas então que há já o governo constituído e definitivo no teu coração?

- Estou convencido de que se fixou o meu destino.

- Pelo lado do amor?

- Sim; pelo lado do amor.

- A notícia contraria grandemente os meus planos.

- Os seus planos?

- Sim; não sabes o que me trouxe aqui? Vim para declarar-te que o tio Luís exige terminantemente que o Maurício parta quanto antes para Lisboa, por se ter afinal convencido de que, apesar de todos os perigos da vida da capital, é esse um passo preferível a deixá-lo permanecer aqui, no seio da ociosidade, que, como sabes, é a mãe dos vícios todos.

- Nesse caso principia hoje a luta. Eu declaro que não parto.

- Deveras?

- Deveras. A minha sorte está decidida, prima. E qualquer que seja o resultado desta resolução.





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