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- Mas, vamos a saber, primo Maurício, e Berta?... (porque me parece que se trata de Berta) e Berta corresponde-te?
- Creio que sim. Por timidez procura fugir-me, ou por desconfiança talvez. Por isso mesmo hei-de provar-lhe que sou sincero, e que através de todos os preconceitos...
- Está a tentar-te o papel de Romeu, é o que estou vendo. Desconfio da sinceridade dessa exaltação.
- Pois verá.
- Ora ponhamos as coisas no seu lugar. Não principies tu a fantasiar escaramuças de Montechi e Capuletti, que provavelmente não terão lugar, com grande dano das feições românticas do caso. A coisa há-de passar-se mais prosaicamente, como hoje se passa tudo. O primo Maurício, depois de uns arrufos do tio Luís, havia de, mais ano menos ano, ver sancionado por ele o seu casamento. Muito bem. Aí o tínhamos patriarca rural burguesmente instalado na lareira da Herdade, com os filhos a treparem-lhe aos joelhos, e conversando em santa paz com o papá Tomé e com a mamã Luísa, ouvindo o estalar das pinhas, e abrindo a boca de sono, quando a ceia se demorasse alguns minutos além das nove horas. Por este mesmo tempo, outros rapazes da sua idade, e talvez com menos aptidão do que ele, caminhariam por entre os fulgores da moda, da elegância e da glória, conhecidos e apreciados nos círculos onde radia a inteligência e onde as brilhantes qualidades do espírito encontram sempre em que se exercerem. Não chegariam a este solitário Maurício às vezes umas invejazinhas desses tais, mesmo ao suave calor da fogueira patriarcal?
- E quem me impediria de os sentir também? - disse Maurício contrariado. - Nesses caminhos que diz não é força progredir solitário. O apoio de um coração...
A baronesa abanou a cabeça em sinal de dúvida, dizendo:
- Desengana-te, Maurício, se ainda te sorri a vida da grande sociedade, não procures a companhia de corações como o de Berta.