Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 24: XXIV Pág. 337 / 519

Já o que o padre me contou de quando foi a história da entrega das chaves, e agora esta entrevista... Preciso de conhecer Berta; está dito. É uma influência que é bom cultivar. Digam o que quiserem; não há nada melhor para amansar um velho bravio como este. É ver a falta que fez aquela pobre Beatriz. Ao pé de um velho quer-se sempre uma rapariga para não os deixar azedar e tomar estes ares selvagens e opiniões avinagradas que o tio Luís já ia adquirindo. Nada; o padre procurador o mais distante dele possível, que pregue a outros os seus soporíferos sermões sobre o direito divino e sobre a corrupção da época; no lugar dele coloquemos Berta, e quero saber se o leão não há-de amansar. Agora vamos lá ver Maurício. Para falar a verdade, ainda não sei bem o que se há-de fazer dele; mas, em todo o caso, mandemo-lo para Lisboa, porque nos está causando muito embaraço aqui.

E Gabriela dirigiu-se para a sala do almoço, onde Maurício todas as manhãs a precedia.

Encontrou-o na varanda, que deitava para uma ribanceira, como absorvido na contemplação do abundante jorro de água que ali se despenhava por entre fetos vigorosos, cuja rama encobria o fundo do precipício. Os raios do Sol da manhã irisavam a húmida poeira que a água, ao quebrar-se, levantava do abismo.

Gabriela aproximou-se de Maurício sem ser percebida, e depois de o observar alguns momentos pousou-lhe a mão no ombro.

Maurício voltou-se quase sobressaltado. Ao ver a prima sorriu.

- Não a senti chegar.

- Isso vi eu. Que profunda meditação era essa? Queira Deus que não estivesse sentindo a atracção do abismo. Dizem-me que é irresistível; sobretudo para certas organizações.

- Não, os abismos físicos não são os que me atraem.

- O que é o mesmo que dizer que os morais alguma atracção exercem sobre ti.





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