Passava-se naquele momento na alma de Jorge uma luta de resoluções antagonistas. Se por um lado lhe repugnava a proposta de Tomé, tentava-o por outro a curiosidade dolorosa de saber como Berta acolheria o pedido de Clemente e a resposta que lhe daria. Receava que a íntima comoção, que procurava sufocar, se traísse na presença de Berta em tão solene momento, e ao mesmo tempo custava-lhe renunciar a observá-la quando ouvisse a proposta do pai. A curiosidade venceu. Esforçando-se por desvanecer todos os vestígios da sua perturbação, Jorge respondeu a Tomé no tom da maior indiferença, que, visto que ele julgava conveniente a sua presença durante a entrevista que ia ter com a filha, pela sua parte não opunha objecção.
E, sentando-se outra vez à banca, abriu ao acaso um livro, que fingiu examinar atento, mal podendo reprimir o tremor da mão com que o segurava.
Tomé da Póvoa chamou a filha ao escritório.
Jorge ouviu os passos de Berta descendo as escadas; sentiu-a abrir a porta e entrar na sala; levantou timidamente os olhos para responder ao cumprimento que ela lhe dirigiu e baixou-os novamente sobre o livro que abrira.
Berta olhou interrogadoramente para o pai, que permanecia silencioso, como quem estudava a maneira de principiar.
Afinal entrou assim no assunto:
- Mandei chamar-te, Berta, porque se trata de um negócio sério que te diz respeito.
- A mim? - perguntou Berta admirada, alternando os olhares entre o pai e Jorge, que não erguia os seus.
- Sim, filha, a ti. O caso não é de espantar. Há um rapaz nesta terra, um moço honrado e trabalhador, a quem agradaste, e que te pede para mulher.
Jorge aventurou um olhar furtivo para o rosto de Berta.