Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 396 / 519

- Porquê? - perguntou Gabriela.

- Porque... porque não.

- Quererás dar-te ao incómodo de procurar outra razão mais lógica, primo Jorge?

- Meu pai não aceitaria os cuidados da filha do Tomé da Póvoa.

- Primeiro que tudo é preciso que consideres que o doente que eu deixo lá dentro não é já aquele D. Luís que nós ambos conhecemos na Casa Mourisca; depois Berta para ele é raras vezes a filha do Tomé, é a amiga de Beatriz, é a imagem viva daquele anjo que ele ainda hoje chora. Teu pai não terá coragem para afugentar Berta de junto do seu leito, e difícil será tirá-la de lá.

- Tomé não consentiria...

- Tomé é um homem generoso e que, apesar de tudo, tem uma sincera afeição ao tio Luís. O Jorge bem o sabe.

- Mas...

- Mas, afinal de contas, a principal objecção está em que o primo Jorge não quer. E porque não quer?

- Não é isso, mas... Demais a mais Berta não viria decerto nesta ocasião, em que lhe não falta que fazer em casa.

- Pois que há por lá?

- Os preparativos do casamento dela.

- Do casamento de... quem?!

- De Berta.

A baronesa ficou desta vez verdadeiramente surpreendida.

- De Berta?! Pois Berta casa-se?!

- E em pouco tempo.

- Com quem?

- Com o Clemente, o filho da minha ama, da Ana do Vedor.

Gabriela permaneceu algum tempo calada, sem poder desviar os olhos de Jorge, como se quisesse devassar o que se passava no espírito do primo, ao dar-lhe em tom de indiferença aquela notícia.

- Berta casa-se! - repetiu ela. - E por sua vontade?

- Por certo. Quem a obrigaria?

- Parece-me incrível. E que pensa o primo Jorge desse casamento?

- Acho-o tão natural que fui eu próprio que fiz a proposta.

- A proposta do casamento?!

- Sim, a proposta do casamento.

- A Berta?!

- Ao pai e a ela.





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