Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 28: XXVIII Pág. 397 / 519

- E como te lembraste disso?

- Porque o Clemente me pediu.

- Ah! E condescendeste sem dificuldades?

- Porque não?

- E Berta também aceitou sem objecções?

- Sim, sem grande hesitação.

Jorge respondia a esta série de perguntas de uma maneira constrangida, como quem ansiava por libertar-se depressa do inquérito. Nunca olhara directamente para a baronesa, que pelo contrário não tirava dele os olhos, nem perdia os sinais de turbação com que ele lhe respondia.

Afinal Gabriela dirigiu-se ao primo no tom de resolução de quem se decide por um partido manifesto.

- Jorge, olha bem para mim.

Jorge fitou na prima os olhos, admirado.

- É com indiferença que vês realizar-se o casamento de Berta e que me estás falando nele?

Jorge corou intensamente à inesperada interpelação, e tentou responder ladeando:

- Com indiferença não, decerto. Sou amigo do Tomé e Berta é...

- A filha dele, bem sei. Deixemos esses parentescos. E já que desejas que fale mais claro, pergunto-te: É ou não é verdade que amas Berta?

- Eu?!

- Sim, tu. E repara no que me vão responder os lábios, porque o rosto já me respondeu.

Jorge conheceu que não lhe era possível dissimular; abraçou portanto o partido da franqueza, que lhe era mais congenial.

- Nesse caso era desnecessária outra resposta. Porém não duvidarei em dar-lha. É verdade que a amo.

- Nesse caso que quer dizer toda esta comédia?

- Quer dizer que eu e Berta estamos decididos a cumprir corajosamente o nosso dever. Ela fazendo a felicidade de um homem honrado que a estima, e realizando o papel de providência de uma família, que é a mais gloriosa missão da mulher; eu votando-me todo à obra que empreendi, e procurando tornar tranquilos os últimos dias de meu pai neste mundo, sem lhe ir exacerbar as paixões do seu coração irritado, para satisfazer as minhas.





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