- E como te lembraste disso?
- Porque o Clemente me pediu.
- Ah! E condescendeste sem dificuldades?
- Porque não?
- E Berta também aceitou sem objecções?
- Sim, sem grande hesitação.
Jorge respondia a esta série de perguntas de uma maneira constrangida, como quem ansiava por libertar-se depressa do inquérito. Nunca olhara directamente para a baronesa, que pelo contrário não tirava dele os olhos, nem perdia os sinais de turbação com que ele lhe respondia.
Afinal Gabriela dirigiu-se ao primo no tom de resolução de quem se decide por um partido manifesto.
- Jorge, olha bem para mim.
Jorge fitou na prima os olhos, admirado.
- É com indiferença que vês realizar-se o casamento de Berta e que me estás falando nele?
Jorge corou intensamente à inesperada interpelação, e tentou responder ladeando:
- Com indiferença não, decerto. Sou amigo do Tomé e Berta é...
- A filha dele, bem sei. Deixemos esses parentescos. E já que desejas que fale mais claro, pergunto-te: É ou não é verdade que amas Berta?
- Eu?!
- Sim, tu. E repara no que me vão responder os lábios, porque o rosto já me respondeu.
Jorge conheceu que não lhe era possível dissimular; abraçou portanto o partido da franqueza, que lhe era mais congenial.
- Nesse caso era desnecessária outra resposta. Porém não duvidarei em dar-lha. É verdade que a amo.
- Nesse caso que quer dizer toda esta comédia?
- Quer dizer que eu e Berta estamos decididos a cumprir corajosamente o nosso dever. Ela fazendo a felicidade de um homem honrado que a estima, e realizando o papel de providência de uma família, que é a mais gloriosa missão da mulher; eu votando-me todo à obra que empreendi, e procurando tornar tranquilos os últimos dias de meu pai neste mundo, sem lhe ir exacerbar as paixões do seu coração irritado, para satisfazer as minhas.