Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 3: III Pág. 40 / 519

Aquilo nos primeiros tempos foi uma loucura. Aqui tem a minha vida. Deus ajudou-me, e daí por diante tudo me tem corrido bem. Já vê, Sr. Jorge, que quem deve o que é a ter sido honesto, não pode recusar o seu pouco auxílio a um rapaz de brios e de probidade como é o menino.

Jorge estendeu a mão a Tomé, dizendo-lhe sensibilizado:

- Fez-me bem ouvi-lo, Tomé. A sua vida é um exemplo, é uma lição, e nela procurarei aprender. Eu também sinto os mesmos desejos de remir a minha última dívida, para depois chamar meu ao que me pertence. E nesse dia também eu abraçaria com entusiasmo aquelas velhas árvores e ajoelharia para beijar a terra que os meus antepassados me deixaram. Mas não sei se a empresa está ao alcance das minhas forças.

- Está. Eu lhe digo. Há aqui só uma dificuldade a vencer. Empregue toda a sua força para esse fim, porque se trata do bem da sua casa, do seu futuro e da sua dignidade. É preciso que o pai lhe dê licença para o menino administrar a casa e que o padre capelão se contente com dizer missas, porque depois…

- Ainda quando vencesse essa dificuldade, que é grande, Tomé, porque meu pai ainda vê em mim uma criança, surgiria outra. De si nunca meu pai…

Tomé da Póvoa não o deixou concluir.

- Eu sei, mas o Sr. D. Luís não se mete por miúdo nos negócios da casa, desde que tem um procurador encarregado deles. Consiga que ele ponha em si a confiança que tão mal emprega no padre, e eu lhe prometo que o mais se fará. Eu não exijo mais garantias para o meu dinheiro, do que um escrito seu, Sr. Jorge. Demais, como a sua experiência é pouca, eu, se mo permitir, guiá-lo-ei nos primeiros tempos. Como seu pai não gosta que o menino venha por aqui, virá sem que ele o saiba. Os serões de Inverno são longos, nós conversaremos algumas noites.





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