Nesta mesma carta de Gabriela havia alguns períodos em que, usando uma linguagem mais grave, ela falava da probabilidade do seu casamento com Maurício.
«Não atribuas este projecto a um mero capricho de mulher. Não é. Resolvi-me a dar este passo depois de ter reflectido o mais friamente possível nas vantagens e consequências dele. Mais tarde ou mais cedo eu tinha de contrair segundas núpcias; a posição em que me acho e as impertinências dos inúmeros aspirantes à minha mão ou antes aos bens que herdei de meu marido, assim o exigiam. Era difícil deixar de ceder. A minha simpatia por Maurício é um motivo de preferência muito justificado. Nenhum candidato me agradava mais, o que não quer dizer que me sinta apaixonada. Mas muito teria que esperar se aguardasse por uma paixão para me decidir. Já não estou em tempo disso. Maurício é um rapaz amável e delicado bastante para não me dar motivos de arrepender-me. É quanto exijo. Sou tolerante por índole e por hábito, não terão portanto efeito sobre mim os costumados motivos de desolação de todas as esposas extremosas, motivos que muito provavelmente Maurício não deixará de dar à sua. Isto pelo que me diz respeito. Quanto a ele, entendo que lhe convém este casamento. Primeiro porque realizará uma operação financeira um tanto vantajosa; depois, porque, graças à minha longanimidade, não peará demasiadamente os seus movimentos de rapaz com os laços matrimoniais, sem que por isso corra os percalços dos maridos pouco fiéis aos lares domésticos. O Jorge faz-me a justiça de assim o acreditar, não é verdade? E, finalmente, porque desta maneira precavê-se contra alguma tentação, a que são sujeitas as cabeças como a dele, que em um momento de entusiasmo transtornam todo o seu futuro. Casando comigo, fica livre de desposar a primeira dançarina de S.