Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 466 / 519

- Jorge! Ó meu Deus, por que havias de me dar filhos só para me afligirem e envergonharem!

- Ora aí está! Até agora nem o Clemente lhe servia para a Berta, em tais alturas a punha. Agora então já o filho o desonra só por gostar da rapariga. Entendam-no lá. Que tal é o amor que o padrinho tem à afilhada?! Eu cá de mim não entendo estas amizades de tarraxa.

D. Luís não dava atenção às reflexões da Ana. Lutavam-lhe no coração paixões encontradas e violentas: sob a influência de umas sentia-se cair em profundo desalento, outras incitavam-no, pelo contrário, a uma reacção desesperada.

Tomé não se enganara nas suas previsões. As suspeitas e preconceitos mal abafados no coração do fidalgo contra o lavrador alvoroçaram-se com a revelação que acabava de ouvir.

A intimidade de Jorge com Tomé, os serviços prestados por este à casa, a vinda de Berta para os Bacelos por espontânea deliberação do pai, tudo explicava o seu espírito preocupado por uma trama infernal combinada por o fazendeiro.

- Era a isto que ele queria chegar! - bradava irritado o fidalgo. - Descobriu-se finalmente o hipócrita! A audácia desta gente não tem limites! Gabem-me os brios e nobreza de alma destes miseráveis! Rodou em volta de minha casa o lobo, espiou a presa, atraiu-a a si e feriu-a! Que ambição! Aí está no que deu o desinteresse dos seus actos, a lealdade das suas intenções! Até da filha se servia, o infame, como instrumento dos seus planos e maquinações! Há nada mais vil? Trouxe-ma para casa, como a víbora que me havia de inocular o veneno. E eu, fraco e tonto pela velhice e pela doença, deixei-me iludir! Oh! mas eles mal sabem com quem se metem e no que se metem! Deviam lembrar-se de que nos homens como eu, ainda quando a vida se lhes está a apagar, a vontade pode reunir em um instante toda a energia de que precisa para esmagá-los, antes de morrer!

E D.





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