Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 467 / 519

Luís, no auge da indignação, ergueu-se da cadeira em que estava sentado, e com o rosto afogueado pela ira, os punhos cerrados e os braços estendidos, bradou:

- E eu esmago-os! esmago-os a todos, se se atreverem a vir insultar-me nestes últimos dias de minha vida!

Ana tentou acalmar a fúria do fidalgo, mas ele nem já a ouvia.

Fraqueando-lhe já a voz, trémulo, ansiado, banhado em suor frio, continuava em tom cavernoso:

- Eu lhes juro que não me hão-de vencer na luta que provocaram. Quando me tiverem já usurpado a casa, seduzido os filhos e insultado o nome de minha família, hão-de ainda vergar sob o peso das minhas maldições, porque eu acredito que há um Deus no Céu e que as pragas dum velho ludibriado têm ainda poder para atrair as desgraças sobre a cabeça dos miseráveis que me insultam!

- Fidalgo, fidalgo, volte a si! - bradava Ana do Vedor, deveras consternada.

O velho arredando-a com um movimento impetuoso, exclamou com energia crescente:

- Deixem-me! Deixem-me! Quero viver só, de hoje em diante! Só! Não quero ver ninguém, nem filhos, nem família! Ninguém! Cada pessoa que se aproxima de mim vem com o intento de me atormentar; cada afecto a que abro o coração transforma-se cá dentro em um veneno corrosivo! Oh! É de mais! Deixem-me! Deixem-me morrer para aqui só, ninguém me apareça, ninguém me fale, deixem-me!

Neste momento a porta abriu-se e Berta apareceu, atraída pela altercação que lhe parecera ouvir no quarto do padrinho, e perguntou assustada:

- Que é o que tem, Sr. D. Luís, o que lhe sucedeu?

O fidalgo, exasperado, voltou-se com vivacidade ao ouvir-lhe a voz, e injectando-se-lhe ainda mais o rosto, bradou:

- És tu? Que queres? Vens continuar a obra que te incumbiram?! Sai daí! Sai! Não me apareças!





Os capítulos deste livro