Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 473 / 519

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- Não havia jurado coisa alguma; quase nem me falara detidamente desde que eu voltara à aldeia. Parecia fugir de mim, parecia que a minha presença lhe desagradava, que as minhas palavras o irritavam. Não era possível iludir-me a esse respeito. Afligia-me ver a pouca simpatia que eu merecera, sem saber porquê, a um rapaz que todos diziam tão generoso, tão indulgente e de tanto juízo; e isto era causa para eu muito pensar no que poderia dar motivo àquele proceder dele para comigo. Tinha isto sempre na ideia, observava-o, estudava-o... e foi mau isto, bem sinto que foi mau.

- Porquê?

- Porque quanto mais o observava - continuou Berta, com ingénua sinceridade - mais de perto lhe conhecia as nobres qualidades, e sentia a pouco e pouco em mim uma admiração por ele, uma simpatia, um respeito, um...

- Um amor - concluiu D. Luís, vendo a hesitação de Berta.

- Uma loucura - emendou esta - que eu tratei logo de abafar em mim, porque desde o princípio a vi tal como ela era.

- És um anjo - disse D. Luís, afagando-a.

Berta prosseguiu:

- Mas a proposta daquele casamento, feita pelo Sr. Jorge, foi para mim mais uma prova da antipatia que eu julgava merecer-lhe. Pareceu-me quase uma perseguição; despeitada com ela, disse a meu pai que aceitava a proposta de Clemente.

- E ele... e eles que disseram?

- Ficando momentos depois só com o Sr. Jorge e sem que pudesse já reter as lágrimas que me afogavam, perguntei-lhe quais eram as razões que o tinham levado a dar aquele passo, a encarregar-se daquela proposta, por que motivo eu lhe era tão odiosa, o que é que o levara a fazer-me mal, a mim que nunca lho fizera nem desejara.

- E ele?

- Foi então - prosseguiu Berta, mais enleada - que imprevistamente ele me confessou que o único motivo de todo o seu proceder, da sua aparente má vontade, da dureza das suas palavras era.





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