Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 34: XXXIV Pág. 474 / 519

.. a afeição que me tinha e que, desde que a sentira, se esforçara por ocultar e vencer, como eu também fizera; que estava decidido a sacrificá-la aos seus deveres de família, mas que não queria que o sacrifício ferisse a mais alguém senão a ele, e para isso procurara sempre desviar de si pelo seu proceder as minhas atenções e simpatias. Não o conseguiu; mas que importava? Eu não tinha menos coragem do que ele, e compreendia tão bem como ele quais eram os meus deveres, que em mim eram mais fortes ainda.

- Pobre rapariga! - murmurou D. Luís comovido.

- Assim posso dizer que foi aquele o primeiro e o último dia desses... amores de que lhe vieram falar, não sei para quê. No mesmo dia em que nos declaramos, no mesmo dia prometemos abafar em nós mesmos essa loucura que nascera sem que o sentíssemos. E tanto que dias depois eu vinha pedir-lhe o consentimento para me casar com Clemente.

- E teu pai nada soube de tudo isso? - perguntou o desconfiado fidalgo.

- Se nós mesmos o não sabíamos! - respondeu Berta com ingenuidade.

Depois de um intervalo de muda reflexão, D. Luís segurou outra vez nas mãos a graciosa cabeça da afilhada e pousou-lhe na fronte um beijo, verdadeiramente paternal.

- Era bem digna de ter nascido entre a nobreza - disse ele suspirando - quem tão nobremente pensa e procede. Quantas raparigas criadas em palácios deviam ouvir e aprender de ti, Berta! Pobre pequena! O teu sacrifício é grande e custoso, porque tu, com esse coração que tens, se amas, deves amar deveras; mas bem vês e tu mesma o reconheces, é um sacrifício inevitável! Nas famílias como as nossas há certas exigências tradicionais...

- Sr. D. Luís - disse Berta interrompendo-o -, repare que há dias que eu lhe pedia o seu consentimento...

- Bem sei, Berta; bem vejo que o teu juízo dominou a tua fantasia de rapariga.





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