- Sossega, minha filha - prosseguiu o fidalgo, animando-a. - Bem vês que eu não quero repreender-te. Somente queria que me dissesses a verdade a este respeito.
- Meu padrinho - disse Berta, perturbada ainda -, pois não se lembra do pedido que lhe fiz ainda há poucos dias?
- Do pedido?... Ah! sim... Falas do casamento?... Mas se ele já se não faz? Se foi a própria mãe de Clemente que me contou desses amores entre ti e meu filho?
- Oh! não pode ser! - exclamou Berta, consternada. - Como havia ela de saber?... Como podia ela dizer isso?
- O mesmo Jorge lho revelou.
- Jorge!... o Sr. Jorge!... É impossível!
- Mas por que não respondes à minha pergunta? O que há de verdade em tudo isso?
Berta conservou-se ainda algum tempo silenciosa e irresoluta. Depois, como se abraçasse um partido decisivo, tornou com maior vivacidade:
- Tem razão, meu padrinho, devo dizer-lhe a verdade. Nem ela tem em que me envergonhar.
- Então é certo?
Berta, com os olhos fitos no chão e a voz mal firme, mas exprimindo resolução, principiou:
- Um dia o Sr. Jorge apresentou-se em casa de meu pai, a pedir-lhe, em nome de Clemente, licença para o casamento que sabe...
- Como?! Foi Jorge que pediu esse consentimento? E antes disso não tinha ele já dado a conhecer-te...
Berta não o deixou continuar.
- Escute, Sr. D. Luís, que, eu prometo dizer-lhe toda a verdade. Meu pai chamou-me para consultar-me a esse propósito.
- Ah! teu pai consultou-te?! E esperava que tu recusasses, não é verdade?
- Eu nunca pensara em casar-me, nunca pensara até no futuro, por isso aquela proposta sobressaltou-me.
- E respondeste...
- Depois, o ter sido feita pelo Sr. Jorge mais me perturbava ainda.
- Sim, porque ele havia-te jurado talvez.