Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 35: XXXV Pág. 481 / 519

Quando o soube, estalou-me o coração de dor e coraram-me as faces de vergonha. Cheguei a arrepender-me, pela primeira vez, de alguns serviços que em boa-fé prestei ao Sr. Jorge, pequenos mas feitos da melhor vontade. Mas uma vez que o caso se deu, sem culpa minha, só tenho a dizer-lhe isto, fidalgo; ouça-me bem. Quero do coração a seu filho, de pequeno o estimo, e respeito-o agora como um homem de bem que é; quero deveras, se quero! a minha filha, é a primeira que eu tive, é a única rapariga, é a que trago mais chegada ao coração, fraquezas de pai, como sabe; pois bem, quero-lhes a ambos e muito, mas ainda que a afeição que eles tivessem um pelo outro fosse tal que eu os visse morrer, e que a salvação deles só dependessse do meu consentimento para se casarem, deixá-los-ia morrer, deixava; morreria com eles, mas não daria esse consentimento. Juro-lhe, fidalgo, juro-lho! que para tanto tenho coragem; porque o meu orgulho não é menos forte do que o de V. Ex.ª! Para eu consentir que um filho meu entrasse na sua família, fidalgo, era necessário que V. Ex.ª primeiro me pedisse por favor para assim o consentir. Agora veja lá se isso é possível.

Ao terminar, Tomé tinha a respiração cortada, ofegante, como de quem realizou um esforço enorme. Caíam-lhe bagadas de suor pela fronte afogueada e as mãos contraíam-se-lhe em crispações nervosas.

D. Luís ia a responder-lhe quando Berta entrou no quarto preparada para a partida.

A sua chegada cortou neste ponto a cena.

Berta relanceou um olhar para os dois velhos e adivinhou que a cena que ela previra tivera lugar.

- Quer que vamos? - perguntou ela ao pai, timidamente.

- Vamos - respondeu este com um modo sacudido, dirigindo-se para a porta.

Berta aproximou-se do fidalgo, olhando-o com timidez.





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