Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 4: IV Pág. 50 / 519

D. Luís me distingue com a sua confiança? Mas a coisa não é tão fácil como lhe parece. É boa!

- Mas quais são os seus planos, padre Januário, qual é o seu sistema de administração?

- Os meus planos?!… Ora essa!… Então que planos quer que sejam os meus? Sistema de administração! Isso é frase de cortes… Hum! tenho entendido… É o que eu digo… Ó Sr. Jorge, ora fale-me a verdade, aí andam ideias de liberalismo. Com quem falou esta manhã? Ora diga.

- Venham donde vierem as ideias. A origem pouco importa, a questão é que elas sejam boas. Eu não trato de liberais nem de absolutistas agora. Vejo que a minha casa se perde, vejo caírem os muros e nunca se repararem; vejo campos e campos sem a menor cultura, encontro em tudo quanto nos pertence profundos sinais de decadência, e quero saber a grandeza do mal que nos oprime.

- E se for grande o mal, o que quer que se lhe faça?

- Quero que se trabalhe para remediá-lo; que se façam sacrifícios úteis, que deixemos a louca vergonha e o orgulho enfatuado que nos faz viver hoje ainda uma vida que não é destes tempos. Desenganemo-nos; a época não é de privilégios nem de isenções nobiliárias, é de trabalho e de actividade. Plebeu é hoje só o ocioso, nobre é todo o que se torna útil pelo trabalho honrado.

- Jesus! O que aí vai! O que aí vai! Eu bem o digo! Há liberal na costa! Isso é tão certo como dois e dois serem quatro. Se o pai o ouvia!

- Há-de ouvir-me, porque tenciono hoje mesmo falar-lhe.

- Que vai fazer, Sr. Jorge?

- O meu dever. Eu e o meu irmão seremos um dia os representantes da nossa família. Para que nos orgulhemos do nome que herdámos, é necessário que esse nome não tenha manchas e que nós não lhas lancemos.

- Mas quem lhe diz, quem lhe fala em manchas? Ora.





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