Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 8: VIII Pág. 93 / 519

Mande-me ir. A mãe deve ter muito trabalho em olhar por tudo em casa. É tempo que eu a ajude em alguma coisa. Aos dezoito anos é uma vergonha não o fazer. É uma parte da minha educação que posso concluir aí e que me será bem necessária. Demais, confesso-lhe que, depois da morte de minha madrinha, havia de custar-me a continuar em Lisboa. Peço-lhe pois que me deixe ir viver consigo e matar as saudades que já tenho de todos e de tudo.

Muitas lembranças à mãe, muitos beijos aos pequenos.

Sua filha, que espera muito cedo abraçá-lo,

Berta

P. S. Que não se esqueça de dar muitos recados à Joana, ao Manuel da Costa e à filha, assim como à tia Eusébia e às demais pessoas amigas.»

Tomé leu à mulher a carta da filha, e entre ambos discutiram o partido que conviria adoptar.

Saudades maternas e paternas, desejo de ver de perto e abraçar a filha dilecta e primogénita, que havia tanto tempo lhes andava longe das vistas, o sonhado prazer de a sentir, animando a casa com todo o calor de vida que em torno de si difunde uma rapariga de dezoito anos, resolveram a questão no sentido indicado por Berta; e para assim a resolver quase bastava que ela o indicasse.

Decidiu-se pois que Berta voltasse para a Herdade.

Daí os necessários preparativos para a acomodação da filha, cujos hábitos, modificados pela vida da cidade, deviam ter exigências, a que era justo atender.

O instinto materno adivinha melhor do que era de esperar essas miúdas necessidades, e a liberalidade paterna provia a elas. E tudo isto preocupava o feliz casal, cujo contentamento se reflectia em criados e jornaleiros.

Jorge encontrou uma noite Tomé ainda empenhado nesta labutação caseira, e soube dele a causa de tanto alvoroço.

O filho mais velho de D. Luís ouviu com sobressalto a notícia.





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