Júpiter respondeu-lhe:
- Juno, não queiras conhecer todos os meus pensamentos! Das coisas que decido com outros deuses, és tu a primeira a saber. Mas quanto ao que premedito longe deles, não deves indagar nem investigar.
Mas Juno ainda mais enfurecida, retrucou-lhe:
- Que estás a dizer? Se queres falar, fala e se, não queres, fica em silêncio. Pouco me importa o que penses ou deixes de pensar! O que me admira é que te deixes seduzir por Tétis, a filha de Nereu. Bem que a vi ajoelhada diante de ti fazendo súplicas a favor de seu filho. Bom será que ela não te tenha convencido a abandonar os gregos à sua sorte.
O deus que comanda as nuvens respondeu-lhe:
Ó mulher insensata, que vives a desconfiar de mim! Por causa das tuas desconfianças, cada vez estás mais afastada do meu coração. Se as tuas suspeitas forem fundadas, pior para ti. Cala-te e não me importunes, pois, de contrário, nem todos os deuses do Olimpo te poderão salvar da minha cólera!
Amedrontou-se a venerável Juno ao ouvir tais ameaças, baixou os olhos e quedou-se silenciosa. Nessa altura já os ânimos estavam exaltados no Olimpo. Mas Vulcano, o filho da deusa, procurou apaziguar os espíritos celestiais dizendo:
- Imploro-vos que tenhais calma. Se vos puserdes a discutir como mortais, os nossos males tornar-se-ão insuportáveis e os nossos festins perderão a graça e o sabor. Peço-te minha mãe, que vás abrandar Júpiter, meu pai, para que não se enfureça e não nos derrube a todos dos nossos tronos, pois ninguém o supera em poderio.