— Tétis, foi muita gentileza tua atender ao meu chamamento apesar dos desgostos que te oprimem. Sei que estás triste por causa do teu filho, cujo destino não tardará a cumprir-se, mas vou-te dizer porque foi que te chamei. Entre nós reina a discórdia há nove dias e o motivo não é outro senão o desrespeito de Aquiles para com Heitor. Podíamos roubar-lhe o cadáver, mas não o fazemos por rua causa, para não te magoar. Mas é preciso que vás imediatamente à presença do teu filho e procures convencê-lo de que deve entregar Heitor a Príamo, quando este se apresentar diante dele oferecendo-lhe o preço do resgate.
Assim falou Júpiter e Tétis aquiesceu, dirigindo-se à tenda de Aquiles, que não cessava de chorar e lamentar-se. Aproximando-se dele, disse-lhe com voz meiga e carinhosa:
— Meu filho, porque não cessas esses lamentos? Poucos dias te restam de vida e, em vez de procurares aumentar a tua glória, permites que o teu coração se endureça com essa crueldade sempre renovada. Foi Júpiter quem me mandou procurar-te e dizer-te que deves devolver Heitor ao velho Príamo, quando este vier resgatá-lo.
— Está bem, minha mãe — respondeu Aquiles. — Já que o deus o ordenou, entregá-lo-ei assim que alguém o venha buscar.
Enquanto isso, voava Íris para a cidade de Tróia e disse ao velho pai de Heitor, logo que chegou:
— Da parte de Júpiter venho assegurar-te que o teu filho te será entregue por Aquiles, assim que te apresentes em sua barraca levando o preço do resgate, acompanhado apenas de um guia.
Príamo correu ao encontro de sua esposa e narrou-lhe o que acabara de ouvir da mensageira divina. Disse-lhe que estava disposto a apresentar-se sozinho no acampamento de Aquiles, com os mais ricos e belos tesouros de Tróia. Mas Hécuba, supondo que ele estivesse com o judo transtornado pela desgraça, exclamou: