Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 13: XIII Pág. 147 / 519

Maurício possuía um desses caracteres fáceis de dominar, móveis, que cedem ao bem e ao mal, e que tanto habilitam o homem a realizar heróicos feitos como a perder-se. Tudo está na influência que os rege.

Se têm faculdades para apreciar o gozo que de uma acção grande e generosa resulta; se são capazes de a conceber e dão estímulos para a executar; também as seduções do vício os enlevam, também a vertigem do abismo os atrai, e aproximam-se fascinados do precipício, sem que a razão acorde para os suspender no progresso fatal.

Caracteres assim são instrumento poderoso do bem e do mal, conforme a mão que deles usa e a intenção que os dirige. São os que sentem a influência das boas ou má companhias.

Dentro em pouco chegavam os três rapazes à Herdade.

- Então a rapariga? - perguntou o padre, examinando as janelas vazias.

- Nem sempre aparece à janela - informou Maurício.

- E de que meio te serves para chamá-la? Tosses, cantas, assobias? - perguntou o doutor. - Qual é o teu sistema?

- Eu não tenho sistema.

- Então para que nos trouxe por aqui este inocente, não dirão?

- Tu não tens entrada em casa?

- Meu pai não gosta que nós visitemos o Tomé.

- Ah! lá se o papá ralha...

- Este Maurício tem coisas!

- Isto é mesmo uma menina inocente!

- Aqui não há malícia alguma!

Estas observações dos manos estavam causando a Maurício vergonha da sua própria candura.

- E então daqui? - interpelou o doutor.

- Então... - titubeou Maurício.

- Segue-se dar meia volta à direita e retirarmo-nos com caras de asnos, não é assim?

- Façam vocês o que quiserem, - exclamou o padre - eu por mim, já que aqui estou, não me retiro sem ver a pequena.

- Mas como? - interrogou Maurício.

- Eu te digo já. A coisa é simples.





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