Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 199 / 519

Nos telhados cresciam em verdadeira floresta as ervas parasitas; fragmentos de louça, de garrafas, velhos arcos de pipa, farrapos, montões de caliça pejavam, desde tempos imemoriais, a superfície do pátio. Manchas verdes de musgos e de líquenes, que a humidade desenvolvera, cobriam a fachada do edifício, por onde havia muitos anos não passara a brocha do caiador.

Maurício subiu as escadas desta casa húmida e entrou nos corredores, que estavam tão desertos como o pátio. Passeavam por eles imperturbadas as galinhas e as pombas como em terreno familiar, e ocasiões havia em que pela porta meia aberta dos aposentos se insinuava curiosa uma cabeça suína. Só os criados não apareciam, a ociosidade dos amos era contagiosa. Conhecedor da topografia da casa, Maurício foi ter direito ao quarto dos primos que procurava.

Dormiam ainda os dois mais novos, enquanto o morgado andava labutando com alguns lavradores vizinhos no destroço do que ainda lhe restava.

O sono do padre e do doutor não era para ceder à primeira chamada. Ainda depois de lhes bater à porta, Maurício continuou a ouvi-los ressonar em um duo assustador.

Afinal respondeu a voz rouca de um deles com um som inarticulado, que claramente expressava o mau humor que lhe assistia ao despertar.

- Sou eu, abram - disse Maurício, continuando a bater.

Respondeu-lhe uma praga, e depois outra voz acrescentou:

- A porta está aberta. Levanta a tranqueta e entra.

Maurício assim fez e entrou para a sala, que servia de aposento comum dos dois manos.

Havia dentro uma atmosfera quente, abafadiça e viciada de fumo de cigarro que sufocava.

A sala era ampla, mas de um desarranjo e desconforto indescritíveis.

Dois catres de ferro ao lado um do outro, uma cadeira sem fundo,





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