Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 16: XVI Pág. 200 / 519

sustentando a bacia e jarro mutilados, servia de lavatório, a roupa pendurada em cabides fixos na parede mal caiada e salitrosa, ou caída pelo chão; o espelho pendente dos caixilhos da janela, velas de sebo meio gastas metidas em garrafas, cuja superfície era adornada de gordurentas estalactites, e em palmatórias de metal pintado de lágrimas verdes pela oxidação; a um canto, o depósito da roupa suja, em outro, o arsenal, composto de espingardas, revólveres, paus ferrados, chicotes e cassetetes; além, os arreios de cavalgadura; na mesa, ao pé da cama, os restos das grosseiras iguarias da ceia da véspera, alguns usados baralhos de carta, de mistura com umas insígnias pobres e desprezadas da vestimenta do padre, tudo enodoado de azeite e de vinho, e pontas de cigarro por toda a parte.

Os dois achavam delícias neste viver, que chamavam escolástico, e que diziam avivar-lhes recordações dos seus tempos de estudante.

Bem poderia contudo o aposento ter mais um grau de limpeza, sem que nisso tivesse que despir a feição de desordem característica a um quarto de rapaz solteiro.

Quando Maurício abriu para trás as portas das janelas, os dois primos saudaram com uma jura a luz do dia, que foi incomodar-lhes com os seus raios a retina preguiçosa. Depois de um ruidoso e prolongado bocejo, o doutor sentou-se na cama com os olhos mal abertos e os cabelos caindo-lhe em desordem sobre a testa; e o padre, meio amuado, voltou-se para a parede, no intento de encetar outro sono.

- Que vida de inúteis vadios esta! - exclamou Maurício, puxando para o meio da sala a mais desocupada e limpa cadeira que encontrou, e pondo-se às cavaleiras nela. - Ao meio-dia!

- Isso! Vem cá falar da vida de vadios. Olha se me convences de que te afadigas muito a trabalhar.





Os capítulos deste livro