Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 284 / 519

Queria conversar directamente com os nossos advogados na demanda do Casal do Reguengo. Parece-me que há circunstâncias de valor que no processo não se têm feito sentir devidamente. Depois, aquele documento que lhe mostrei não me sai da ideia. Enfim, pode ser uma ilusão minha, mas tenho com tanto afinco estudado a questão, que me parece que vejo claro nela. E como sabe, Tomé, se ela se nos resolvesse favoravelmente, era meia vitória ganha.

- Isso era.

- Portanto quando o Tomé puder dispor de si, desejava que me acompanhasse à cidade, para me apresentar aos juízes e letrados, que conhece. Depois, tenho ainda outro fim em vista; desenredadas estas teias que me embaraçam, preciso de um grande capital para incorporar à terra, para tirar dela os recursos que de outra maneira não pode dar. A sua generosidade e os seus sacrifícios não podem ir tão longe: graças a eles, já a usura me deixa respirar mais livremente, e já a equidade substituiu o dolo de muitos dos contratos de nossa casa. Mais tarde a escala do empréstimo tem de subir forçosamente para realizar em grande os aperfeiçoamentos agrícolas que em pequeno vou ensaiando. O capital particular não me bastará para esse intento. Lembrei-me da nova companhia de Crédito Predial, que se instalou agora no país. Preciso pois informar-me dos negócios atinentes a estas operações e da regularidade de alguns títulos que possuímos. Pode auxiliar-me no que lhe peço?

- Amanhã partiremos, se quiser.

- Pois seja amanhã. E não acha que encaminho melhor a sua vingança por este lado, Tomé?

- Acho que quem tem o juízo do Sr. Jorge pode muito bem passar sem o auxílio de pessoa alguma. Mas enfim cá estou às ordens.

Passado meia hora, entrou Tomé em casa e participou à mulher que ia no dia seguinte ao Porto, na companhia de Jorge, e que talvez aí se demorassem alguns dias.





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