Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 20: XX Pág. 283 / 519

Falarão apenas do único que me humilha, do único que tem efectivamente um carácter de esmola, do menos importante de todos, do que se realizaria com o rendimento da nossa menor tapada, depois de remidos. Agora veja lá, Tomé; se o seu intento é realmente o de humilhar-me, prossiga na sua obra, que eu prometo não a embaraçar com os meios legais que não desconhece; mas se a sua vingança é, como suponho, mais nobre, mais digna de si, se ousa fazer-nos bem apesar do orgulho que lho rejeita, sem lhe importar que um bem seja aparente para que os outros nos vejam humilhados, então deixo ao seu juízo resolver se este é o melhor caminho que tem a seguir.

Tomé da Póvoa ouviu tudo isto com os olhos no chão, apertando o lábio inferior entre o pólex e o índex e balanceando lentamente com o corpo.

Depois que Jorge acabou de falar, permaneceu assim ainda por algum tempo, e acabou por dizer:

- Bem; visto isso, desisto. Engolirei os meus protestos conforme puder. Não digo que não tem razão, acho até que a tem. Quando me resolvi a isto, pensava só no fidalgo, não pensava no Sr. Jorge... Agora vejo que fui muito apressado. Muito bem, farei por me resignar. Lá me custa, mas...

- Não lhe peço que desista da sua vingança. Quero também que um dia a verdade obrigue meu pai a reconhecer que a nobreza não está só nos pergaminhos e que a aliança com um homem honrado honra sempre quem a contrai.

Tomé já tinha lágrimas nos olhos ao apertar a mão a Jorge.

- Peço-lhe até que continue o seu auxílio, sem o qual eu nada faria, e até vou indicar-lhe um género de serviços que espero dever-lhe.

- Fale, fale, Sr. Jorge, o que o senhor de mim não conseguir, ninguém consegue.

- Há muito que eu desejo ir ao Porto. A espécie de exílio a que meu pai me condenou facilita-me agora essa empresa.





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