Os Fidalgos da Casa Mourisca - Cap. 22: XXII Pág. 309 / 519

Eram as surdas detonações de uma trovoada longínqua.

Berta olhou em roda um tanto inquieta.

O colorido do céu e dos campos era belo, mas pouco tranquilizador.

O firmamento estava esplendidamente pintado, não com o azul uniforme dos dias serenos, mas com as variadas tintas que recebia da influência eléctrica de uma tempestade iminente. Grandes nuvens isoladas iluminavam-se, ao sol-poente, de reflexos dourados. O campo, em que elas se desenhavam, ostentava todas as gradações do azul, desde o anil carregado até um quase verde esvaecido que interrompiam leves e longos estratos tingidos de roxo e violeta. Ao nascente, no seio de um denso cúmulo de vapores amarelados, desenhava-se vagamente o majestoso íris. O verde das árvores e dos prados recebia desta luz um cambiante mais vivo. Principiava a soprar a viração quente e rasteira, que levantava em redemoinhos as folhas caídas no chão.

Tudo anunciava uma tempestade próxima.

Berta não ousou ir mais adiante.

A vizinhança da noite e da tempestade obrigou-a a retroceder.

Neste momento, porém, entrava na ponte um cavaleiro, que, assim que avistou a filha do Tomé, desmontou com ligeireza e dirigiu-se para ela a pé.

Era Maurício.

Bem desejaria Berta evitá-lo, mas já não o podia fazer sem uma afectação mais indiscreta do que a própria entrevista.

Em poucos momentos Maurício estava a seu lado.

- Até que finalmente a encontro, Berta. Quase me tinha chegado a convencer de que uma fatalidade ou um propósito nos separava. Há tanto tempo que não conseguia vê-la!

- E procurava-me, Sr. Maurício?

- Todos os dias o tenho feito.

- O mais natural era procurar-me em casa; aí é que passo a maior parte do meu tempo, auxiliando minha mãe, que bem precisa de quem a ajude.





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